Escrito por Marta Nogueira e Fábio Teixeira
RIO DE JANEIRO (Reuters) – A frustração dos investidores com os escassos dividendos da estatal brasileira de petróleo Petrobras fez com que ela perdesse mais de 50 bilhões de reais (14 bilhões de dólares) em valor de mercado na sexta-feira, depois que membros do conselho nomeados pelo governo votaram por distribuições mais generosas. .
A queda de quase 10% nas ações reflete a maior frustração dos investidores até agora com o presidente-executivo, Jean-Paul Prats, que tentou equilibrar os interesses dos acionistas minoritários com um governo de esquerda ansioso por ver mais gastos de capital.
A Petrobras tem sido uma grande fonte de dinheiro para os seus acionistas nos últimos anos, incluindo o governo brasileiro, com a gestão anterior pagando muito mais do que os seus principais homólogos petrolíferos ocidentais.
Sob a nova gestão escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a empresa reduziu seus pagamentos, mas o dividendo extraordinário ainda era amplamente esperado no mercado.
Na quinta-feira, a administração da empresa propôs a distribuição de 50% dos lucros extraordinários permitidos pelos seus estatutos para o quarto trimestre. Prats disse que propôs o dividendo adicional, mas se absteve da votação do conselho, já que os membros do conselho apoiados pelo governo votaram contra.
Na sua demonstração de resultados do quarto trimestre, a Petrobras disse que pagaria apenas dividendos rotineiros de 14,2 mil milhões de reais (2,9 mil milhões de dólares) aos acionistas, enquanto outros 43,9 mil milhões seriam reservados num fundo para “recompensas de capital”.
Analistas do Goldman Sachs disseram aos clientes que os investidores expressaram expectativas de um dividendo excepcional de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões, além dos pagamentos de final de ano previamente programados.
A falta de dividendos adicionais levou a uma série de cortes, inclusive no Bank of America, no Bradesco BBI e no Santander, já que os analistas questionavam como a empresa gastaria as suas crescentes reservas de caixa.
A decisão “aumenta a percepção de risco na Petrobras, particularmente no que diz respeito à influência do governo em relação às principais decisões de alocação de capital”, escreveram analistas do Bank of America em nota aos clientes enquanto rebaixavam as ações para neutras.
O Diretor Financeiro, Sergio Caetano, tentou dissipar as preocupações de que o aumento das reservas alocadas para o “bônus de capital” seria usado para investimentos.
“Algumas dúvidas foram levantadas sobre a possibilidade de utilização para investimentos”, disse ele em teleconferência com analistas. “Não pode ser utilizada para investimentos. O objetivo dessa reserva é distribuir lucros.”
Cayetano acrescentou que não há prazo para a liberação desses recursos, mas isso pode acontecer a qualquer momento. A decisão sobre a distribuição de dividendos extraordinários continuará a ser tomada no final de cada exercício.
Após seus comentários, as ações preferenciais da Petrobras reduziram algumas perdas anteriores, mas caíram 9%, para 36,66 reais, nas negociações da tarde de sexta-feira em São Paulo, responsáveis pela queda de 0,7% do índice de referência Bovespa.
A Petrobras relatou um declínio de 6,3% em seu lucro líquido recorrente do quarto trimestre, para 41 bilhões de reais, superando as expectativas de 35,3 bilhões de reais entre analistas consultados pela LSEG.
($ 1 = 4,9769 riais)
(Reportagem adicional de Marta Nogueira e Fabio Teixeira no Rio de Janeiro e Peter Frontini em São Paulo; edição de Gabriel Araujo, Brad Haynes e Jonathan Oatis)
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